por Dr. Ricardo de Moura Biz, Médico Psiquiatra e Psicanalista, Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Colaborador do Centro de Estudos de Saúde Mental Itupeva.
Serafim era um andante sem norte.
Vestia trajes furados por onde entrava um vento frio.
Certo dia, parou diante de uma vitrine e viu um manequim usando, dos pés à cabeça, a cobiçada roupa de empreendedor.
O maltrapilho pensou que aquela vestimenta o deixaria aquecido e bonito.
Fez, então, horas extras de pedinte, caprichou no apelo por esmolas e conseguiu juntar o investimento necessário para a compra do uniforme de empreendedor.
Logo que saiu da loja, andando confiante pelas calçadas, começou a notar que quase todo mundo estava vestido de empreendedor.
Apesar de haver pouca exclusividade em sua roupa, ele ficou muito feliz por estar pertencendo ao grupo de empreendedores. Falava com orgulho. Sentia-se compreendido.
Após a primeira lavagem, ele estranhou, pois a roupa encolheu um pouco. Mas sua alegria era tanta que ofuscou esse inconveniente.
Mas, a cada lavagem, encolhia mais; até que não aguentou o desconforto: a roupa não lhe servia direito. Os seus punhos, as suas canelas e a ponta da sua barriga ficavam à mostra. E aquele frio, que ele já conhecia, voltou a incomodá-lo.
Irritado, retornou à loja para reclamar.
Chegando lá, viu um grupo de clientes insatisfeitos, com o mesmo problema que Serafim.
Revoltados, exigiam o dinheiro de volta. Gritavam, mas ninguém ouvia seus ais, já que a vitrine estava vazia.
Na fachada da loja só se via um grande cadeado e uma faixa onde se lia: “disponível para empreendedores”.
AUTOR
Ricardo Biz
Psiquiatra Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), da FEPAL e da International Psychoanalytical Association (IPA) Livros publicados — O amor In verso — Sinto mas Ad versos — Psiquiatria, psicanálise e pensamento simbólico —Internações psiquiátricas (Org) — O que é a morte, papai?
E-mail: contato@psiquiatriajundiai.com.br
