Ambiente familiar e transtornos mentais

Ambiente familiar e transtornos mentais

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Muitos se compadecem das pessoas com transtornos mentais graves e, com frequência, se esquecem das famílias. Se há famílias disfuncionais, por outro lado somente quem já conviveu com doentes mentais sabe o quanto é difícil compreender os seus problemas. Daí a reivindicação de familiares por internações prolongadas ou mesmo vitalícias, sempre causando sofrimento às pessoas doentes e mal-estar após essa decisão.

As duas situações devem ser consideradas: a dificuldade, em especial de famílias carentes, de conviver com os seus doentes e a rejeição devido ao preconceito e ao estigma de ter alguém nessas condições.

 

clínica psiquiatrica

 

Comumente, famílias desajustadas chegam a maltratar pessoas com transtornos mentais e não resta dúvida quanto a essa influência, como gênese de determinados transtornos e fator de agravamento, em muitos casos que se encaminham às clínicas psiquiátricas.

O seguimento domiciliar, sempre útil, ainda não é viável a todos, mas corresponde a uma iniciativa relevante, destinada a minorar os conflitos ou atritos interpessoais no âmbito familiar. Através da visita de profissionais que compõem equipe articulada, é possível intervir em uma extensa gama de problemas, porém esse procedimento demanda custos e não se pode estender de modo a se tornar uma prática generalizada.

Em experiência recente, realizada por uma equipe de clínica psiquiátrica**, os resultados se mostram promissores. Resta a decisão política para subsidiar esse empreendimento. O atendimento em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) predomina nas ações políticas que visam a saúde mental, mas seria ilusório supor que atendam a todas as necessidades, não somente pela heterogeneidade dos quadros clínicos como pela qualificação diferenciada dos integrantes de equipes multiprofissionais.

De fato, a saúde mental exige planejamento em todos os níveis de atenção: desde os pronto-atendimentos, passando pela internação breve em hospitais psiquiátricos e até mesmo pelas casas alternativas com propósito terapêutico, o seguimento ambulatorial. O hospital-dia, com ou sem pernoite e a enfermaria psiquiátrica em hospitais de clínica médica são níveis relevantes do sistema de atenção, mas existem em número reduzido, dada a demanda.

 

saúde mental

 

Não se deve omitir, da mesma forma, a importância da orientação psicossocial para as famílias, como medida preventiva e prática interligada aos outros níveis de atenção. A saúde mental exige tais procedimentos, assim como a melhoria dos programas de educação, inclusive em nível universitário. O bem-estar de todos está em jogo, nessa perspectiva mais ampla.

É bem conhecido o fato de que, em maior prevalência, há transtornos mentais que não necessitam internação, podendo ser tratados em regime aberto. Porém, em regiões com maior densidade populacional, transtornos mentais graves, como a drogadição e a esquizofrenia, representam contingente considerável de pessoas sem-teto.

Esse problema ocorre em muitos países, até mesmo mais avançados em recursos econômicos, mas segue muito insuficiente no Brasil, por motivos que não cabe discutir neste texto.

 

Ruy B. Mendes Filho

Médico Especialista em Psiquiatria, Mestre em Psicologia Clínica e Supervisor Clínico do Hospital Psiquiátrico Itupeva (Itupeva, SP)

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