
por Dr. Ricardo de Moura Biz, Médico Psiquiatra e Psicanalista, Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Colaborador do Centro de Estudos de Saúde Mental Itupeva.
Os estudos sobre tratamento intensivo domiciliar [IHT Intensive Home Treatment] ainda são escassos, mas começam a crescer. Um estudo realizado em Barcelona[1] avaliou o perfil da população de pacientes internados em tratamento intensivo domiciliar e aqueles internados em hospital psiquiátrico.
Os resultados foram compatíveis com aquilo que normalmente observamos em nossas atividades clínicas: os pacientes internados tem um maior risco de suicídio por apresentarem mais pensamentos suicida e maior impulsividade.
A impulsividade é frequentemente associada ao risco de suicídio, mais até do que a própria depressão, como se poderia pensar.
É mais mortífera a impulsividade (o ato impensado e a agressividade nele contida) do que a depressão, pois o paciente deprimido, muitas vezes letárgico, não tem a energia suficiente para se agredir.
Esse achado na pesquisa reforça o aspecto que pacientes, com alto grau de impulsividade e risco suicida, talvez devam ser encaminhados para internações psiquiátricas tradicionais.
É importante discriminar as indicações de cada modalidade de tratamento, calibrando a abordagem para cada situação clínica específica.
Esse estudo reforçou também que pacientes com diagnósticos de transtornos psicóticos podem ser tratados com a modalidade de tratamento intensivo domiciliar com bons resultados.
Olhando de uma maneira geral, o perfil da população atendida pelo tratamento intensivo domiciliar e a internação psiquiátrica tradicional não difere muito, exceto pelo nível de gravidade e impulsividade um pouco maior no grupo da internação tradicional.
O tratamento intensivo domiciliar segue se mostrando como uma alternativa viável, eficaz e com possibilidade não de substituir totalmente a internação psiquiátrica, mas atender a um segmento de pacientes em determinado momento do tratamento, e isso não é pouca coisa.
Muitos modelos de tratamento chamados “domiciliares” não ocorrem propriamente na casa dos pacientes, mas, no geral, trata-se de residências administradas pelo Estado que dispõe de leitos e são operadas por profissionais, como enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, psiquiatras etc. No Brasil, dispomos das “Residências Terapêuticas” e das “Residências Inclusivas”, mas que fique bem claro que o tratamento intensivo domiciliar é feito na casa do paciente e por isso é diferente desses aparelhos anteriormente citados.
[1] O leitor pode acessar o estudo em: https://www.elsevier.es/es-revista-revista-psiquiatria-salud-mental–286-articulo-is-intensive-home-treatment-real-alternative-S1888989121001233
AUTOR
Ricardo Biz
Psiquiatra Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), da FEPAL e da International Psychoanalytical Association (IPA) Livros publicados — O amor In verso — Sinto mas Ad versos — Psiquiatria, psicanálise e pensamento simbólico —Internações psiquiátricas (Org) — O que é a morte, papai?
E-mail: contato@psiquiatriajundiai.com.br