Vamos, neste texto e nos demais, tentar compreender um pouco mais sobre as dificuldades que os cuidadores apresentam com os pacientes psiquiátricos. Na forma de subitens, enumerei aspectos gerais frequentemente observáveis nos pacientes psiquiátricos que demandam cuidados mais intensivos:
Regressão emocional
O profissional que trabalha com psiquiatria ou mesmo com pacientes clínicos deve saber o que é regressão emocional. Os quadros psiquiátricos, independente do diagnóstico (depressão, esquizofrenia, demências, uso de drogas) cursam com regressão emocional.
Os pacientes com doenças clínicas também regridem: uma gripe, uma pneumonia ou um câncer colocam o paciente numa posição ensimesmada e egocêntrica; atitudes, no entanto, necessárias para que o paciente consiga investir sua atenção em si, cuidar de si (ou ser cuidado por) e reparar em ou nele mesmo. Ora, se as energias do paciente não se voltarem para ele mesmo, a cura fica dificultada.
No entanto, a regressão emocional favorece que o paciente ocupe uma posição passiva, irresponsável, cômoda e até gratificante, na medida em que recebe assistência, carinho, atenção, dengos, favores, atestados, afastamentos e benefícios sociais.
Tais ganhos (secundários) podem dificultar a aquisição de autonomia, independência e emancipação do paciente. O estado de regressão emocional pode durar o tempo da doença, mas pode durar anos ou uma vida inteira!
A regressão psicológica é o retorno a um nível de desenvolvimento emocional anterior. Seria, aproximadamente, “voltar a ser criança”, dentro de uma perspectiva evolucionista e progressista do desenvolvimento emocional. E, de fato, o manejo vai ficando parecido com o demandado por crianças. Faz-se isso intuitivamente. Fala-se no diminutivo, “criances”, mudança na entonação da voz.
Desta forma, a regressão emocional lidamos frequentemente com egocentrismo, insegurança, arrogância, oposição a tratamento e procedimentos de higiene (não quer tomar remédio, recusa-se a banho, escovação etc), projeções (projeta nos cuidadores a maldade e a causa dos males e azares de sua vida), agressividade, auto agressão, masoquismo, manipulação, chantagem e sedução.
Como se pode imaginar, a regressão emocional é acompanhada de algum grau de rigidez mental, que exige que a interação se estabeleça dentro de uma rotina, com atividades e horários fixos; qualquer mudança é sentida como catastrófica e desorganizada pelo paciente. A repetição dos hábitos pode dar alguma ideia de previsibilidade nas ações, o que fornecer algum conforto à insegurança do paciente.
Um paciente que tinha uma mãe com quadro demencial queria tirá-la de casa para almoçar, pois considerava (ou projetava) que seria bom para ela variar o ambiente, mas a paciente relutava, reagia e se opunha à mudança da rotina.
Esse paciente sentia-se culpado por não proporcionar algo novo para a mãe. Ou seja, supunha as questões da paciente demenciada com base no seu próprio julgamento (que não estava demenciado e estava querendo novidades e novos sabores para sua vida).
Esse exemplo ilustra o risco da famigerada “empatia”, como se fosse positivo e terapêutico se colocar no lugar do outro. É impossível sentir a dor do outro, ou se colocar no lugar do outro, o que podemos fazer é tentar imaginar a dor do outro com base no estado emocional dele e nunca perder de vista as diferenças interpessoais e a alteridade.