Tratamento intensivo domiciliar em psiquiatria

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por Dr. Ricardo de Moura Biz, Médico Psiquiatra e Psicanalista, Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Colaborador do Centro de Estudos de Saúde Mental Itupeva.

 

Ultimamente, alguns países desenvolvidos têm estudado formas combinadas de tratamento com internação e suporte domiciliar para pacientes com crises psiquiátricas graves.

Um estudo holandês[1] avaliou a eficácia, para um grupo de 112 adolescentes, entre 11 a 18 anos, da combinação da internação em hospital psiquiátrico juntamente com suporte domiciliar.

Os profissionais de saúde mental visitavam os pacientes em sua casa. Desta forma, envolviam a família no tratamento do paciente. No início ou durante a crise, o adolescente estudado também poderia ser encaminhado a uma internação curta (máximo de 2 semanas) em hospital psiquiátrico.

O tratamento intensivo domiciliar concentra-se fortemente na melhoria da relação entre o paciente e os cuidadores, na reintegração social, na continuidade da escola, no trabalho e nos hobbies do paciente, reduzindo o comportamento de autoagressão e aumentando a motivação do adolescente para as terapias. Isso pode evitar internação clínica mais longa, a dependência do ambiente hospitalar e a estigmatização do adolescente.

Por mais necessária que seja, uma internação psiquiátrica apresenta certas rupturas de atividades que estavam em marcha. Entretanto, às vezes, tal ruptura pode ser inclusive terapêutica, na medida em que afasta o paciente de fontes de estresse e relações tóxicas.

Esse estudo verificou 53% de melhora do sintomas (com base nos escores do HoNOSCA[2]) após 4 meses de tratamento.

Esse estudo mostra como tem sido presente a preocupação de oferecer modalidades de tratamento psiquiátrico que não estejam simplesmente alocadas numa bipolaridade: internação versus tratamento ambulatorial.

É interessante abrir um debate para a elaboração de novas modalidades de manejo que transitem no amplo espaço existente entre a internalização em hospital (ultra-intensivo) e seguimento em consultório (ultra-extensivo), geralmente com consultas muito espaçadas.

 

[1]Muskens JB, Herpers PCM, Hilderink C, van Deurzen PAM, Buitelaar JK, Staal WG. Intensive home treatment for adolescents in psychiatric crisis. BMC Psychiatry. 2019 Dec 19;19(1):412. doi: 10.1186/s12888-019-2407-x. PMID: 31856770; PMCID: PMC6924140.

[2] Health of the Nation Outcome Scales for Children and Adolescents (HoNOSCA)

 

 

AUTOR

Ricardo Biz

Psiquiatra Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), da FEPAL e da International Psychoanalytical Association (IPA) Livros publicados — O amor In verso — Sinto mas Ad versos — Psiquiatria, psicanálise e pensamento simbólico —Internações psiquiátricas (Org) — O que é a morte, papai?
E-mail: contato@psiquiatriajundiai.com.br

 

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