Tratamento personalizado e acolhedor: a promoção da saúde mental em ambiente familiar

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por Dr. Ricardo de Moura Biz, Médico Psiquiatra e Psicanalista, Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, Colaborador do Centro de Estudos de Saúde Mental Itupeva.

 

Hoje em dia, o tratamento de transtornos psiquiátricos não se limita aos polos, separados por um abismo, da internação hospitalar de um lado e do outro o segmento ambulatorial.

Uma ampla gama de situações de crises psiquiátricas pode ser tratada com respaldo domiciliar.

Pesquisas vêm demonstrando a eficácia de abordagens mais humanizadas e particularizadas no ambiente familiar.

Uma pesquisa[1] realizadas na Suíça avaliou um modelo de visitas diárias domiciliares realizadas por equipe técnica e encontrou resultados promissores.

Mesmo para pacientes considerados graves, tem-se percebido benefício. O aparato domiciliar também pode ser indicado após a alta de uma internação psiquiátrica em hospital.

A avaliação clínica da gravidade de um paciente indica se deve ser encaminhado para internação em hospital psiquiátrico ou se pode realizar um tratamento em casa.

Esse estudo suíço também sugere que tentativas graves de suicídios e/ou compulsão intensa de drogas são casos que dificultam a internação domiciliar.

No entanto, muitos casos se enquadram no perfil de pacientes que podem ser tratados domiciliarmente.

O fato de não retirar o paciente do ambiente familiar pode  trazer-lhe conforto, pois continua usufruindo de um espaço conhecido, mantém as suas relações pessoais e sua rotina prévia.

Nas internações psiquiátricas tradicionais fica difícil estabelecer um regime muito individualizado para cada paciente, porque as instalações da instituição, os pátios, o refeitório são comuns; além disso, eventualmente o paciente internado num hospital divide quarto, compartilha banheiro e não dispõe de uma televisão particular. Num hospital, há horários fixos de refeições, de atividades, hora estipulada para dormir e das rotinas pré-estabelecidas, como limpeza, banhos, descanso etc.

Já uma internação domiciliar pode ser desenhada de forma mais individualizada, de acordo com as características de cada paciente.

Os idosos também têm se beneficiado de tratamentos domiciliares, embora os idosos não tenham sido objetivo deste trabalho citado anteriormente.

Idosos que possuem alguma autonomia, mas que necessitam de certo monitoramento podem ser elegíveis para modelos domiciliares.

Muitas vezes, o idoso quer permanecer no lugar que já lhe é conhecido, familiar, onde as coisas estão do seu jeito e obedecem à sua rotina.

Ao contrário, as casas de repouso, ou o que chamávamos antigamente de asilos, apresentam uma carga de agressão contra a individualidade e a singularidade de cada idoso, exatamente pelos motivos anteriormente citados, já que nessas instituições,  existem um arcabouço rígido de rotinas; até os barulhos e sons da casa não são muitas vezes o que a pessoa gostaria de escutar. Numa casa de repouso, não se escolhe com quem se vai conviver. O idoso interage com outros internados, muitas vezes, bastante comprometidos e demenciados. Já num tratamento domiciliar, o idosos pode desfrutar de um ambiente mais calmo, silencioso e aprazível.

[1] Stulz, N., Wyder, L., Maeck, L., Hilpert, M., Lerzer, H., Zander, E., . . . Hepp, U. (2020). Tratamento domiciliar para saúde mental aguda: ensaio clínico randomizado. The British Journal of Psychiatry, 216 (6), 323-330. doi:10.1192/bjp.2019.31

 

 

AUTOR

Ricardo Biz

Psiquiatra Membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), da FEPAL e da International Psychoanalytical Association (IPA) Livros publicados — O amor In verso — Sinto mas Ad versos — Psiquiatria, psicanálise e pensamento simbólico —Internações psiquiátricas (Org) — O que é a morte, papai?
E-mail: contato@psiquiatriajundiai.com.br

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